segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Natal na Favela

Autor :Marcelo Vinicius de Castro

Cenário: 01 barraco de favela.

Aparece um recenseador e bate na frente do barraco:

- Ô de casa, é o Censo.

Sai o dono do barraco:

- Pode falar. O que o senhor quer?

- Eu sou do Censo e estou fazendo uma pesquisa. O senhor pode responder algumas perguntas?

- Se não for demorar muito, pode.

- Bom, quantas pessoas moram com o senhor?

- Moro sozinho.

- O senhor trabalha?

- Ás vezes. Quando aparece um bico. Emprego mesmo pra valer, faz muito tempo que não tenho.

- E o que o senhor fazia quando trabalhava?

- Era pedreiro.

- É solteiro ou separado?

- Ei meu, que papo é esse? Sou é macho!

- Não é nada disso senhor. É apenas o questionário.

- No momento estou solteiro.

- E qual a renda do senhor?

- (irritado) Olha aqui, eu já te falei que sou macho! Ta pensando que uso renda é?

- Não, pelo amor de Deus, não é isso. É sua renda mensal, quanto o senhor ganha por mês.

- Acho bom. Mais ou menos uns R$ 200.00. Quando consigo alugar um quarto extra que tenho aqui atrás do barraco, aumenta um pouco.

- E no momento, este quarto está alugado?

- Não, ou melhor, tem gente, mas acho que não vão ter como pagar. São uns coitados que chegaram ontem à noite e pediram para ficar aqui. A mulher tá grávida, logo a criança nasce.

- O senhor pode chamar alguém deles para mim, por favor?

- Espera um pouco.

O homem sai de cena e na seqüência aparece o inquilino:

- Pois não, o senhor chamou?

- Sim. Eu estou fazendo o Censo anual e preciso que o senhor responda algumas perguntas. Qual o seu nome?

- Me chamo José Davi.

- E o senhor é casado, seu José?

- Sou sim. A minha mulher se chama Maria de Nazaré.

- Vocês tem filhos?

- Ainda não. Mas acho que esta noite a criança nasce.

- E como vai se chamar?

- Bom, minha mulher, a Maria teve uns sonhos meio esquisitos, disse que conversou com um anjo e tem certeza que vai nascer um menino homem e vai se chamar Jesus.

- Que bonito nome. E vocês vão morar aqui?

- Não senhor. Paramos aqui, porque não encontramos a casa de uns parentes da Maria e o seu Raimundo foi muito bom e nos acolheu. Mas depois que a criança nascer, vamos voltar para nossa terra, Belém no Pará.

- Bom, é só isso. Muito obrigado e um bom final de semana.

- Obrigado, mas final de semana ou dia de semana sem emprego e com fome, é um pouco triste. Mas mesmo assim, muito obrigado e igualmente.

- Obrigado e até logo.

José e o recenseador saem de cena. Música de fundo e um choro de criança. Jesus nasceu. Aparecem Maria com Jesus no colo e José ao lado. Alguns vizinhos vem visitá-lo. Maria, José e Jesus saem de cena. Aparece uma senhora elegante, que pergunta a um vizinho:

srª1 - Por favor, a senhora sabe onde por acaso tem alguma criança recém-nascida por aqui?

- Sei sim. Ontem à noite, nasceu um menino aqui neste barraco. Ele se chama Jesus.

- É que eu trouxe algumas roupas para doar e gostaria de entregá-las. Muito obrigado pela informação.

A senhora bate palmas e sai José:

- Pois não?

srª1 – Com licença. Me chamo Maria Antonia e resolvi trazer umas roupas de bebê e me indicaram este lugar. Se o senhor não se ofender, gostaria que aceitasse.

- Mas é claro que sim. Pobre orgulhoso, não dá muito certo não. Como a srª ficou sabendo que aqui tinha criança?

- Para falar a verdade, vim por instinto. Senti algo de diferente, que me atraia até aqui.

Nisto chegam mais duas senhoras:

srª2 – Com licença. Eu e minha amiga gostaríamos de saber se há algum recém nascido por aqui?

José responde:

- Tem sim e é meu filho, o Jesus!!! (todo orgulhoso)

srª2 – Bom, nós temos alguns mantimentos para doar e não sei se o senhor aceita?

- Claro que aceito. Afinal não é sempre que tem gente disposta a ajudar. Mas como vocês nos acharam?

srª3 – Bom, pode parecer um pouco esquisito, mas foi uma espécie de impulso, não sei.

srª2 – É, foi como se uma força nos puxasse até aqui.

- Ô louco! Vocês tem umas conversas estranhas.

srª3 – O senhor trabalha?

- No momento estou desempregado. Tô com fé que logo arranjo um emprego.

srª3 – Pelo que estou vendo, sua criança Já tem roupas e alimentos por um bom tempo. O senhor aceitaria uma pequena quantia de dinheiro para alguma emergência que possa aparecer? Por favor aceite.

- O que é isso senhora. Não precisa se incomodar.

srª3 – Não, não, eu faço questão.

- Já que a senhora insiste. Muito obrigado.

srª1 – Bom, será que poderíamos ver a criança?

- Claro, só um minuto.

As três senhoras esperam e logo aparecem José com Jesus e Maria atrás. As três senhoras se ajoelham e alguns vizinhos próximos também. Maria fala:

- Eis o Salvador. É Jesus menino que vem nos salvar. Pequeno, pobre e humilde, assim Ele nasceu. E nós, como estamos acolhendo este menino, que nasce e mora nas favelas, nas ruas, nos becos escuros? Será que Ele não está mais perto de nós do que pensamos?

(Canto Final)

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