Muitos professores reclamam de trabalhar com teatro. A grande maioria que não fez cursos de artes cênicas acaba não trabalhando com isso. Um bom ponto de partida, mesmo que você não seja especialista, são as improvisações. Isso significa definir uma situação(Que pode ser uma simulação de uma discussão ou de qualquer outra coisa) e deixar que os alunos criem os diálogos na hora.
Situações absurdas por si só geram boa diversão(Embora isso aumente a rejeição dos mais velhos, já que muitos acham que estão fazendo papel de palhaço), mas por mais que seja difícil fazer com que todos os alunos participem sempre gera boa diversão. Esse tipo de atividade me foi passada para se trabalhar de Primeira à Quarta Série, mas funciona bem até no Ensino Médio (Dependendo, claro, da beliciosidade da turma).
Se você trabalhar com as séries iniciais, crie figurinos simples, com ou sem as crianças. Por mais que outros adultos achem os figurinos ridículos, as crianças adoram e irão brigar para participar. E claro, improvisação é uma atividade geralmente impopular entre muitos coordenadores, pais e outros professores porque é uma atividade feita para os alunos.
Não é uma peça cheia de maquiagem e badaluque para pai aparecer e fotografar, produzida após cansativos e exaustivos ensaios. É uma atividade feita para que os alunos se divirtam, se entrosem e produzam algo que eles gostem.
(Também são improvisações que podem ser usadas como dinâmicas entre adultos numa empresa ou reunião, por exemplo).
Entre algumas das situações que uso:
Prédio do Governo: Pegue quatro alunos, e coloque um na ponta do espaço cênico, outro no meio e um último na outra ponta. Eles serão respectivamente o setor um, dois e três de um prédio do governo e o quarto aluno é uma pessoa atrás de um documento(Pode ser certidão negativa ou RG) dentro do prédio. O setor um fala que não está ali e que a pessoa deve procurar no setor três. O setor três também fala que não está ali e que a pessoa deve procurar o setor dois, que claro, irá falar para a pessoa voltar para o setor um, repetindo-se a situação de forma kafkaniana.
A graça da situação é justamente desenvolver o conflito natural deste tipo de situação absurda.
Vendedor de Cachorro Quente: Um aluno é um vendedor de cachorro quente, outro é o comprador. O comprador vai reclamar que o produto está estragado e vai exigir seu dinheiro de volta, enquanto o vendedor irá ficar ofendido e se recusar. Daí, surge a discussão que é a lógica do escrete.
(Esta situação não fui eu quem desenvolvi).
Fada-Madrinha: É uma situação que funciona melhor com as séries iniciais(Em especial se você desenvolver uma roupa para a fada, nem que seja apenas um chapéu de EVA). Uma aluna é a Fada Madrinha, um aluno ou aluna é uma criança que pede dinheiro para ir à uma festa. A Fada, claro, se recusa, e o conflito surge daí. Um andar típico para a improvisação é:
- Fada-Madrinha do meu coração, a fada mais linda do mundo.
- Pois não…
- Sabe que é… Vai ter uma festa na minha escola…
- E daí?
- Daí que eu estava pensando… se você não poderia emprestar um pouco de dinheiro para que eu pudesse ir…
- Não. Você tem que aprender a trabalhar e ganhar seu próprio dinheiro.
- Só um pouquinho.
- Não.
- Por favor..(Se ajoelhando).. Eu faço o que você pedir…
- Eu vou transformar você num sapo!
- Por favor…
- Tenho que mais que fazer que aguentar criança chorona…
-Por favor(Pegando no pé da Fada).
(Sim, esta situação fui eu quem desenvolvi).
Médico: Um aluno representa um sujeito que vai ao médico, jurando ter uma dor em alguma parte do corpo. O médico insiste que o sujeito está bem, mas o paciente insiste em requerer um tratamento pois não aguentar de dor, e o médico insiste em dizer que tudo está OK.
Do ponto de vista cômico, há diversos tipos de improvisação. O segredo é descobrir os alunos mais extrovertidos para participarem, e tentar com isso incentivar o resto da classe.
EXTRA: Se você tiver uma classe realmente bem articulada e inteligente, em especial de Ensino Médio, e quiser botar para quebrar, você pode tentar duas improvisações: a simulação de debate eleitoral e a simulação de um tribunal de júri.
A simulação de debate eleitoral não é tão complexa: consiste em escolher dois alunos para representarem dois candidatos(Pode ser para presidente, prefeito ou diretor) e o professor serve de moderador. Os candidatos se apresentam e o moderador escolhe temas, que os candidatos irão discutir, com réplica e tréplica. Daí, no final, os alunos da platéia fazem perguntas aos candidatos e no final votam no ganhador(Pode ser por urna ou assinando uma lista de papel).
A simulação de júri é uma atividade mais complexa. Exige que um crime em especial seja bastante delimitado e todo um esforço para a criação de um juri e das simulações de procedimentos. É um atividade muito comum nos EUA, aonde isto é chamado de mock-trial, com alunos vestidos de ternos e gravatas e com campeonatos federais.(Como pode ser visto abaixo).
Ambas as atividades podem ser enriquecidas se você tiver um professor de História ou Filosofia disposto a entrar na brincadeira e podem ser usadas numa exposição ou feira cultural. Mas o julgamento em especial exige uma estrutura bem mais complexa, enquanto o debate é mais trivial.
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